Conheça os principais problemas de pele em gatos

Como maior órgão do gato, a pele pode ser afetada por várias patologias, desde problemas simples até doenças crónicas que precisam de tratamento para toda a vida.

Uma vez que a barreira da pele e a função protetora são danificadas, a pele torna-se mais suscetível a mais danos e agressões, o que pode resultar em problemas secundários.

Se suspeitar que o seu gato possa ter um problema de pele, é muito importante marcar uma consulta com o médico veterinário para um check-up completo.

Como reconhecer um problema de pele no gato?

Há uma série de sinais que podem sugerir problemas de pele em gatos. Estes sinais podem variar de algo tão simples como excesso de higiene até grandes áreas de perda de pelo com pele danificada.

Sinais comuns de problemas cutâneos (de pele) incluem:

• Irritação (prurido) e comichão 
• Excesso de higiene que pode ser um sinal de prurido 
• Queda de pelo (alopecia)
• Cravos pretos (comedões) 
• Pequenos inchaços com crostas (dermatite miliar)
• Pele irritada, vermelha ou escurecida 
• Pele com feridas, irritada, com crostas e úlceras
• Pele Seca, escamosa ou oleosa
• Nódulos.

A dermatologia felina é um tema vasto, mas alguns problemas afetam os gatos com mais frequência do que outros.

Parasitas externos

Os parasitas externos são uma causa frequente de problemas de pele em gatos. Algo tão pequeno quanto uma pulga pode ter um efeito desproporcionalmente prejudicial na pele e na saúde geral do gato, mesmo que gato não tenha acesso ao ar livre.

Mas as pulgas não são os únicos ectoparasitas com os quais precisamos ter cuidado, pois as carraças, ácaros e até mosquitos podem causar problemas dermatológicos em gatos.

Pulgas 

O sinal mais comum de que um gato tem pulgas é a comichão. Com esses minúsculos parasitas a andar por toda a pele do seu animal de companhia à procura do local perfeito para uma refeição, não é de admirar que frequentemente vejamos gatos a tentar arranhar, mordiscar ou limpar esses convidados indesejados.

Quando a comichão é intensa, lesões secundárias, como locais sem pelo, pele vermelha e feridas, podem desenvolver-se e esse problema pode ser ainda mais complicado se o gato for alérgico à saliva da pulga, também conhecida como dermatite alérgica à picada da pulga.

As infestações por pulgas não devem ser levadas de ânimo leve. Uma pulga adulta pode colocar até 50 ovos por dia, que caem da pele do seu animal de companhia para o ambiente de casa e podem facilmente resultar numa infestação de pulgas. Se está a ter dificuldades para se livrar das pulgas do seu gato e se os tratamentos contra parasitas parecem não estar a funcionar, não hesite em conversar com o seu médico veterinário.

Ácaros

Existem várias espécies de ácaros que podem levar a problemas de pele. A maioria dos ácaros instala-se na pele, causando comichão intensa, enquanto outros, principalmente os responsáveis pela demodicose, vivem no folículo piloso.

A maioria dos ácaros são microscópicos, mas o seu tamanho é variável dependendo da espécie e algumas espécies podem ser vistas a olho nu, incluindo os percevejos que geralmente são cor de laranja e do tamanho de uma cabeça de alfinete, e a Cheyletiella, também conhecido como caspa ambulante. 

As infeções por ácaros afetam mais frequentemente as orelhas e são comumente vistas em gatinhos. Estes tendem a resultar numa secreção auricular escura ceruminosa, característica que se assemelha a grânulos de café.

As infeções de ouvido por ácaros geralmente causam desconforto, comichão e até dor, e muitas vezes vemos os gatos a coçar as orelhas ou a abanar a cabeça.

Além das orelhas, as infeções por ácaros tendem a afetar o rosto e a cabeça do gato, mas lesões zonas sem pelo, crostas e descamação, também podem ser encontradas em outras partes do corpo. A doença de pele generalizada, no entanto, não é comum e é mais provável que ocorra se houver um problema de saúde concomitante, como diabetes ou infeção pelo vírus da imunodeficiência felina.

A maioria dos ácaros é contagiosa para outros animais de companhia, e alguns ácaros são até mesmo contagiosos para humanos.

Alergias

Sim, os gatos também podem sofrer de alergias, tal como nós!

O principal sinal de alergias nos gatos é a comichão. À medida que os gatos tentam aliviar essa comichão, vão-se coçando e geralmente causam mais danos na pele e ficam suscetíveis a desenvolver feridas, zonas sem pelo e até escoriações.

Outros sinais de alergias nos gatos, que não são específicos para um tipo de alergia, incluem:

• Comichão na cabeça e no pescoço (prurido na cabeça e pescoço)
• Alopecia autoinduzida (perda de pelo causada, por exemplo, por excesso de higiene)
• Dermatite miliar (pequenas feridas semelhantes a crostas na pele), 
• Lesões do complexo de granuloma eosinofílico (um padrão de reação da pele a um problema subjacente, na maioria das vezes alérgico, que pode manifestar-se como úlceras que geralmente estão presentes nos lábios; outras lesões cutâneas ulceradas; ou placas duras rosadas ou nódulos).
• Infeções bacterianas e fúngicas secundárias (dermatite por Malassezia) devido ao excesso de arranhar a pele.

Dermatite alérgica à picada da pulga (DAPP)

A dermatite alérgica à picada da pulga é a alergia mais comum observada em gatos, seguida pela dermatite atópica. É causada por uma reação exacerbada do próprio sistema imunitário do gato aos alérgenos presentes na saliva da pulga.

Isso significa que uma única picada de pulga pode causar uma reação cutânea desproporcional, e é por isso que não podemos descartar a DAPP se não encontrarmos pulgas no gato!

Gatos com dermatite alérgica à picada da pulga geralmente apresentam lesões na cabeça, costas, perto da cauda, abdómen e muitas vezes dermatite miliar, mas outras localizações, incluindo coxas e flancos, por exemplo, também são possíveis.

Outras hipersensibilidades a picadas de insetos

Os gatos também podem ser sensíveis as picadas de outros insetos, como mosquitos, picadas de formigas, abelhas ou vespas.

Insetos com ferrão geralmente injetam veneno enquanto picam, o que pode resultar numa reação alérgica aguda imediata com inchaço, irritação e comichão intensa que pode levar a problemas mais graves, como dificuldade em respirar. Este tipo de reação anafilática ocorre muito raramente, mas se ocorrer, não hesite em entrar em contato com seu médico veterinário.

Alergia alimentar

Como o nome sugere, na alergia alimentar felina, o alérgeno está presente na comida dos gatos. Os gatos podem ser alérgicos a muitos alimentos diferentes, incluindo carne, frango, peixe e laticínios.

Ao contrário do que se possa pensar, a alergia alimentar geralmente manifesta-se com um alimento com o qual seu animal de estimação já está familiarizado, em vez de se manifestar com uma nova proteína.

A comichão geralmente é mais intensa na cabeça, pescoço e orelhas, e também podem ocorrer vómitos e diarreia em alguns gatos alérgicos a alimentos, mesmo que essa manifestação seja mais rara.

Dermatite atópica 

Mais uma vez, a dermatite atópica é causada por uma resposta imune exagerada a um alérgeno presente no ambiente do gato. Dependendo do alérgeno ao qual o gato é reativo, os gatos podem apenas mostrar sinais de pele em determinadas alturas do ano.

Os alérgenos mais comuns associados à dermatite atópica incluem:

• Ácaros domésticos e outros alérgenos de insetos
• Pólen e outros alérgenos de plantas
• Alérgenos do bolor

O desafio da doença alérgica felina

Diagnosticar doenças alérgicas felinas é um desafio e pode ser muito demorado por vários motivos:

• Os sinais clínicos são semelhantes na dermatite alérgica à picada da pulga, dermatite atópica e alergia alimentar, e estes podem ser clinicamente indistinguíveis. Além disso, os sinais de doença alérgica são comuns a outras doenças de pele.
• Se o seu gato sofre de um tipo de alergia, é provável que sofra com os outros tipos também.
• Não há um único teste que permita aos médicos veterinários diagnosticarem um gato como alérgico, o que significa que é necessária uma combinação de vários testes e descartar outras condições.

No entanto, chegar a um diagnóstico correto é de importância crítica, pois as alergias em gatos são crónicas e precisam de gestão ao longo da vida.

Distúrbios seborreicos: acne felino e caspa

Sabia que os gatos podem sofrer de caspa e acne, assim como nós? Entre as manifestações de distúrbios seborreicos, a caspa e o acne são as mais comuns.

Acne em gatos

O acne felino manifesta-se como cravos pretos no queixo, fazendo com que tenha uma aparência suja. Embora alguns gatos não exibam outros sinais, há outros em que se pode observar o queixo inchado, comichão e até infeção com pápulas, pústulas e até furúnculos. Crostas e feridas também se podem desenvolver como consequência do gato se coçar.

Embora agressões externas, seborreia, imunidade enfraquecida e stresse pareçam contribuir para o acne felino, ainda não sabemos exatamente o que o causa.

O acne felino pode ser um problema crónico para alguns gatos, pois muitas vezes é recorrente.

Pele seca e caspa nos gatos

A seborreia seca nos gatos é mais frequentemente reconhecida como pele escamosa e caspa, geralmente ao longo das costas, embora possa ser vista em áreas localizadas. Os sinais de seborreia seca nem sempre são fáceis de reconhecer, devido aos hábitos meticulosos de higiene dos gatos. Na maioria das vezes, a pele seca e a caspa manifestam-se como uma reação da pele à agressão subjacente.

Infeções de pele

Sendo a pele a primeira barreira de defesa contra todo o tipo de agressões externas, não é surpreendente perceber que os problemas de pele afetam frequentemente os gatos. Mas, felizmente, quando se trata de infeções de pele em gatos, elas não parecem ser tão comuns quanto em cães. As infeções de pele em gatos são causadas principalmente por fungos (sendo a dermatofitose a mais comum), bactérias e leveduras que são secundárias a lesões autoinfligidas devido à comichão.

Dermatofitose

Ao contrário do que o nome sugere, a dermatofitose é causada por um fungo (dermatófitos), não por um parasita.

É importante estar atento a esta doença, pois é contagiosa para outros animais e pessoas. No entanto, o contato com animais infetados ou objetos contaminados nem sempre progride para doença de pele, mas animais e pessoas debilitadas (com doenças concomitantes, por exemplo) ou imunodeprimidas são mais suscetíveis a desenvolvê-la.

A forma como a dermatofitose se manifesta nos gatos pode ser altamente variável. Pode encontrar lesões de pele em forma de anel, zonas sem pelo com a pele seca e escamosa, pele vermelha com caspa, pápulas e crostas.

Infeções secundárias

Embora não seja tão comum como nos cães, as infeções de pele nos gatos são, na maioria dos casos, secundárias a lesões autoinfligidas por arranhões ou lambidas. O tratamento da infeção é vital, mas, mais importante, a causa subjacente do problema de pele ou do problema sistémico deve ser determinada.

É importante ter em mente que infeções de pele não significam necessariamente infeções bacterianas (piodermite), pois os gatos também podem ser afetados por infeções fúngicas.

Doença sistémica com sinais dermatológicos

Nem todos os problemas de pele são o resultado de uma condição da pele, e muitas doenças sistémicas manifestam-se com sinais de pele/pelo, incluindo:

• Condições hormonais, como hipertiroidismo e diabetes
• Deficiências nutricionais 
• Doenças autoimunes, como lúpus e pênfigo 
• Doenças autoimunes, como o FIV (vírus da imunodeficiência felina)
• Tumores.

As lesões de pele variam dependendo da doença subjacente, mas qualquer gato que apresente uma pelagem sem brilho e em mau estado deve levantar a suspeita de uma condição sistémica.

Alopecia psicogénica e dermatite

A alopecia psicogénica e a dermatite geralmente resultam da resposta do gato ao stresse do seu ambiente, como um novo membro da família ou monotonia.

A perda de pelo e a dermatite são causadas pela limpeza incessante de uma ou mais partes do corpo. Isso resulta em zonas sem pelo e dependendo da frequência e agressividade do seu gato, outras lesões secundárias, como pele vermelha ou escurecida, com feridas, lesões eosinofílicas e infeções.

Como o excesso de higiene pode ser um sinal de várias outras condições sistémicas ou cutâneas, é essencial fazer um exame físico completo, obter elementos de história compatíveis com distúrbios de comportamento e diagnósticos, e um problema psicogénico deve ser diagnosticado após descartar todas as outras possibilidades.